domingo, 13 de novembro de 2016

Análise do Comportamento como abordagem profissional.


            Analistas do comportamento enquanto profissionais psicólogos crescem em número em todas as partes. Trabalham sempre com pessoas em interação, seja no governo, em organizações, como profissionais liberais ou empresários. No poder judiciário atuam, por exemplo, em áreas como adoções, acompanhamento de ações socioeducativas, em terapia quando decidida pelo juiz, em atendimento a casais, entre outros. No legislativo, além das tarefas tradicionais, podem abrir um novo campo no auxílio à redação de leis, regimentos, contratos, em termos de contingências e metacontingências. No executivo estão presentes em todas as áreas, muito além dos tradicionais envolvimentos com trabalho, educação e atendimento individual. Em organizações atua em seleção, treinamento, readaptação, pesquisa e trabalhos para desenvolvimento de clima favorável. São cada vez mais frequentes empresas criadas por um ou mais analistas do comportamento associados, que podem atuar em várias áreas, inclusive complementando a formação de jovens psicólogos. E todos os casos mencionados o psicólogo trabalha com interações, seja diretamente como participante, como na psicoterapia individual, seja como observador. A análise do comportamento é útil onde houver comportamento, diretamente observável ou não.

            Esse avanço da análise do comportamento em áreas profissionais não acontece sem percalços. Há muita dificuldade para mudar a maneira de pensar característica da chamada sociedade ocidental, a civilização como desenvolvida a partir dos gregos e de seus filósofos. Atribuir a eventos mentais, internos, ou a presumíveis processos fisiológicos do organismo a causa do comportamento que se observa parece natural.  Tão natural que domina o senso comum, a linguagem dos leigos. A análise do comportamento escapa dessa visão tradicional.

            A discussão sobre se a análise do comportamento é ou não é antimentalista se perde quando não se percebe essa diferença fundamental em relação às outras abordagens focadas no organismo apenas. A análise do comportamento vê o que está atrás dos olhos como eventos a serem explicados para então ser parte da explicação.  Ênfase no organismo, de um lado, e ênfase no ambiente, de outro, geram experimentos diferentes, dão mais força explicativa a causas diferentes. Discordam quanto ao status do comportamento observável. As teorias baseadas no organismo olham para o comportamento como indício ou sintoma de processos que ocorrem dentro do organismo, sejam eles presumíveis processos fisiológicos ou processos mentais metafóricos (a mente processando informações como um computador, por exemplo). Já em uma teoria baseada no ambiente o comportamento é o foco principal e a teoria se fundamenta em relações ambiente-comportamento.
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 "We daily encounter the problem of our fracture from the common culture’s overwhelming belief — that an inner agency determines behavior. Most individuals, groups, and institutions find it difficult to give up the mini-god in the biochemical, contingency-governed, feedback-systems “locus. ”  Most do not give it up; that includes other science disciplines such as economics, political science, and sociology, and other institutions such as government, law, and religion. The man in the street and the academic in the classroom and the professional in the office all resist and resent any science that disputes the creator within."
Dr. Ernest A. Vargas é diretor da B. F. Skinner Foundation.

Leituras recomendadas

            Todorov, J. C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5(3), 347-356. Reimpresso em 2007: Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23, 57-61.

            Todorov, J. C. (2004). Da aplysia à constituição: Evolução de conceitos na análise do comportamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17(2), 151-156.

Todorov, J. C. (2012). Metacontingências e a análise comportamental de práticas culturais. Clínica & Cultura, 1(1), 36-45.

            Todorov, J. C., & Moreira, M. (2004). Análise experimental do comportamento e sociedade: um novo foco de estudo. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17(1), 25-29.