sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Impulsividade e autocontrole como casos particulares da Lei da Igualação (Matching Law).



            Os gráficos abaixo são da segunda edição do livro “Learning”, 1984, de A. C. Catania, páginas 188-189 (do experimento de Rachlin e Green, 1972). A preferência pelo reforço menos atrasado e de menor magnitude (“impulsividade”) desaparece quando esse tempo do atraso para as duas alternativas é igualmente aumentado. O assunto é tratado como um modelo experimental de impulsividade e autocontrole, sem referência à equação generalizada de igualação (matching), aplicada a situações como essa, de decisões, escolhas e preferências. Mas há um senão, porém.
           
Ocorre que atraso é a recíproca de frequência. Em um esquema de reforço de intervalo variável de 1 minuto (VI 60s) cada resposta é reforçada em média a cada 60 segundos (1 R/60s). Logo, podemos dizer que o intervalo médio entre respostas reforçadas é equivalente a um atraso de 60 segundos (60s/R).
......
                        R1/R2 = k (F1/F2)a (M1/M2)b                (Baum, 1974)

onde R se refere à medida de comportamento, F à frequência do reforço, e M à sua magnitude. Os números identificam as alternativas, e as letras a sensibilidade do comportamento aos parâmetros do reforço.

            Se F for a recíproca do atraso nos experimentos de impulsividade, os dados de Todorov (1973) e de Todorov, Hanna e Bittencourt de Sá (1984, 1986) preveem que a preferência pelo reforço de menor magnitude diminui quando a diferença entre os atrasos diminui. Os expoentes encontrados para frequência (a) estão próximos de 1, e para magnitude (b) próximos de 0.5.
           

Seria mais razoável dizer que o modelo de Rachlin para autocontrole (Hanna & Todorov, 2002) é um caso particular da Lei da Igualação (Matching Law, Herrnstein, 1970).  


Baum, W. M. (1974). On two types of deviation from the matching law: Bias and undermatching. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 22, 231-242.
Catania, A. C. (1984). Learning. 2nd Edition. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.        
Hanna, E. S. & Todorov, J. C. (2002). Modelos de Autocontrole na Análise Experimental do Comportamento: Utilidade e Crítica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(3), 337-343.
Herrnstein, R. J. (1970). On the law of effect. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 13, 243-266.
Rachlin, H. C., & Green, L. (1972). Commitment, choice and self-control. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 17, 15-22.

Todorov, J. C. (1973). Interaction of frequency and magnitude of reinforcement on concurrent performances. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 19, 451-458.
Todorov, J. C. (1991). Trinta anos de matching law: evolução na quantificação da lei do efeito. Anais da XXI Reunião Anual de Psicologia, 300-314.
Todorov, J. C. (2012). Quantificação da lei do efeito: o pressuposto da relatividade.   Em J. C. Todorov (Org.), A psicologia como estudo de interações. Brasília: Instituto Walden4, 2012.
Todorov, J. C., Hanna, E. S., & Bittencourt de Sá, M. C. N. (1984). Frequency versus magnitude of reinforcement: new data with a different procedure. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 41, 157-167.

Todorov, J. C., Hanna, E. S., & Bittencourt de Sá, M. C. N. (1986). Sensibilidade do comportamento à magnitude de reforços: efeito do número de condições experimentais com sessão longa. Psicologia. Teoria e Pesquisa, 2, 226-232.

Um comentário:

  1. Bom dia professor, a alguns dias venho me interessando pela teoria comportamental da escolha, e de acordo com as pesquisas que fiz, constatei que ainda é um campo quase que predominantemente de pesquisa básica...

    Sinto uma carência de textos mais disseminadores e interpretativos dessa teoria, com uma linguagem mais próxima das pessoas que trabalham com isso, como psicólogos, pedagogos, marketeiros, vendedores, e pessoas leigas...

    Gostaria de ler um texto mais simples e interpretativo (aos moldes do que o Skinner fez com Verbal Behavior) escrito pelo senhor que é o maior expoente dessa área, e que isso fosse fonte de inspiração para outros Analistas do Comportamento para fazerem o mesmo.

    Obrigado pela atenção.

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