segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A universidade brasileira e as verdades do Professor Dianese.

A universidade brasileira e as verdades do Professor Dianese.

            Das alegadas vinte verdades, concordo com quase todas. Há, porém, alguns exageros e pelo menos duas ou três informações erradas.

Antes da grande greve, a UnB, graças à sua renda própria, podia e legalmente pagava salários melhores do que todas as outras federais - passou a depender da tabela nacional ditada pelo Mec.

Errado. A UnB nunca pagou salários com recursos gerados por seu patrimônio. A isonomia entre universidades fundacionais ocorreu porque docentes no Acre ganhavam mais que na UnB, por exemplo. A isonomia entre fundacionais e autárquicas ocorreu porque estas pagavam salários ridículos. A médio prazo tivemos um nivelamento pela média, todas sendo tratadas como autárquicas. Do governo Sarney para cá nenhum presidente quis encarar o próximo passo: o país não tem recursos para ter 60 universidades federais de ponta, internacionalmente respeitadas, nem tem coragem de estabelecer um ranking com base em vocação e competência. As 60 competem por recursos federais amparadas por seus padrinhos políticos, como qualquer prefeitura do interior. Voltar a 1960 e tratar a UnB como fundação, nem pensar. A pressão política contrária das outras 59 seria esmagadora.

            Sobre o patrimônio da UnB, até 1985 praticamente não saiu do papel. Perderam-se nos desvãos da ditadura as ações da Rádio Nacional, por exemplo. As projeções (terrenos) para construção de edifícios residenciais e comerciais foram tratadas ora como patrimônio para renda, ora como recursos para consumo ou investimento no campus – residências para os professores não eram construídas desde 1964. A política iniciada em 1994, de troca de terreno área por construída, rendeu dividendos que propiciaram a administrações seguintes praticamente igualar com recursos próprios o que recebe do tesouro para consumo. Hoje até esses recursos estão engessados, a UnB precisa de autorização do governo para usá-los.

            O corporativismo é filho do diabo, todos sabemos. Menos quando atua em nosso favor. Sou suspeito para falar da eleição para reitor porque fui eleito no primeiro turno no sistema paritário não universal (peso de 1/3 para a votação de cada segmento – e ganhei nos três segmentos). Nossa atuação entre 1993 e 1997 não deve ter sido ruim pois o reitor eleito em 1997 e reeleito em 2001 participou da administração como decano e tinha nosso apoio. Já o sistema norte-americano de carreiras separadas de administração e docência, e escolha do reitor apenas pelo Conselho Diretor (como foi feito na UnB de 1961 a 1964), certamente teria gerado, a partir da eleição do Presidente Lula, reitores do partido do governo ou da base aliada. Que tal um pastor como reitor?

            Defensores da escolha do reitor por conselhos independentes costumam citar Harvard e outras universidades de ponta como exemplo. Mas mesmo nos Estados Unidos há universidades nas quais o técnico de futebol americano ganha mais e tem mais poder que o reitor. Conheço um caso de uma reitora que mandou cortar árvores do campus e plantou flores, para alegrar a universidade; não durou muito, porque os docentes protestaram.

Compromissos eleitorais podem levar ao mau uso do patrimônio.  A UnB deu a seus imóveis no campus, uma aplicação mais social do que acadêmica. O destino deles deveria se limitar ao uso para atrair docentes para uma cidade de alto custo de aluguéis e para abrigar estudantes - inclusive e talvez principalmente, estudantes de pós-graduação.

            Verdade. A tabela de pagamento subsidiado do aluguel de apartamentos para professores e funcionários foi atualizada pela última vez em novembro de 1993. Quando a maioria de votantes mora nos apartamentos que terão o aluguel reajustado dá nisso, como já previa a Tragédia dos Comuns.

Em segundo lugar, o futuro da universidade depende da implantação de um sistema de concurso público para docentes com um regime especial. Há que se legislar! O atual sistema tem de ser modificado.”

            Outra verdade, decorrente de serem autarquias as universidades federais. E qualquer iniciativa para tratamento diferenciado para todas as universidades federais vai encontrar rejeição feroz dos outros sindicatos de servidores públicos.

Finalmente, a indispensável inserção internacional depende de produção de alto nível. Na universidade eficaz, em todo o mundo, isto depende de estudantes de pós-graduação. Para isso, devem ser proibidas as chamadas teses de gaveta- sabe-se de situações em que se orientou uma dúzia de alunos e praticamente nada se publicou ao custo de quase um milhão de reais apenas em bolsas; pior ainda existem ainda entre nós pessoas, até coordenador de pós-graduação, que consideram um absurdo gastar dinheiro com pesquisa e publicar no exterior, como se a ciência fosse compartimentada e não pertencesse à humanidade.


            Outra verdade. Somos reforçados pelas agências de fomento pelo número de teses e dissertações que orientamos, pela participação em bancas examinadoras, mas não há qualquer consequência para não publicar essas teses e dissertações. Será que isso não gera uma baixa nos critérios para aprovação das bancas examinadoras? Que tal exigir que pelo menos um artigo seja publicado em revista de uma lista aprovada pela agência de fomento, com os nomes dos integrantes da banca examinadora em nota de rodapé?

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