quinta-feira, 3 de outubro de 2013

SOBRE PSICOTERAPIAS

Psicoterapia versus Psicofarmacologia
            Drogas não produzem comportamento. Psicotrópicos atuam no sistema nervoso, aumentando ou diminuindo indiretamente a frequência de comportamentos pré-existentes, alterando condições que fazem parte de interações comportamento-ambiente, como nível de ansiedade. Isoladamente não têm efeito duradouro, mas produzem importantes efeitos indiretos. Essa parece ser a razão para que o tratamento com psicofármacos ser mais frequente que o tratamento psicoterápico. A psicoterapia não vê o comportamento como sintoma,  vê como parte da convivência da pessoa com seu meio social. Nós somos hoje o resultado de escolhas que fizemos e de escolhas que fizeram por nós. Entender o que ocorre ao seu redor é resultado de aprendizagem, por isso psicoterapia leva tempo; maior ou menor dependendo do objetivo (há casos bem sucedidos nos quais uma psicoterapia estruturada de 20 sessões resolveu o problema).
            Dados recentes de pesquisa nos Estados Unidos mostram aumento de tratamentos mistos e diminuição de tratamentos psicoterápicos sem uso de fármacos. Esse aumento na abordagem médica não tem que significar aumento na eficácia do tratamento. O uso de Ritalina por crianças hiperativas, por exemplo, diminui a hiperatividade das crianças apenas enquanto ativa no organismo, mas diminui e muito a ansiedade dos pais. Não resolve, mas dá um descanso para a família e mais chance de interagir proveitosamente  com o ambiente social.

            Se a psicofarmacologia resolve só a curto prazo (o efeito da droga é eterno enquanto dura... ), a psicoterapia precisa de tempo, podendo complicar a curto prazo (sentimento ilhado, morto e amordaçado, volta a incomodar – com agradecimentos ao Fagner). Como a psicoterapia afeta todas as esferas da vida, não é de se estranhar a existência de tantas abordagens, algumas centrando só nas relações do presente, outras buscando razões no passado via lembranças desencavadas, outras no equilíbrio e bem estar do organismo, etc. A atual exigência do governo norte-americano de constatação empírica de sucesso antes de dar mais verbas para esta ou aquela abordagem levou a A American Psychological Association a constituir grupo de trabalho para avaliar pesquisas que atestam esses comprovantes de eficácia. O esforço do APA é louvável; o Golias que é a indústria farmacêutica investe muito em pesquisa todos os anos. Do lado da Psicologia é recente a preocupação com demonstração de resultados, uma tradição da Análise do Comportamento.

8 comentários:

  1. Essa redação teria que chegar aos Órgãos de fomento à pesquisa. No Brasil, a verba aplica à pesquisa está, principalmente, direcionada para as ciências agrárias (biológicas) e exatas. Um rápido levantamento do apoio à pesquisa no CNPq é suficiente para revelar isso:
    Grande Área Quant. % (*)
     Ciências Biológicas 2178 17,99%
     Ciências Agrárias 1881 15,53%
     Engenharias 1673 13,82%
     Ciências Exatas e da Terra 1616 13,35%
     Ciências da Saúde 1541 12,73%
     Ciências Humanas 1509 12,46%
     Ciências Sociais Aplicadas 938 7,75%
     Outra 545 4,50%
     Lingüística, Letras e Artes 215 1,78%

    ResponderExcluir
  2. Respostas
    1. Obrigado! Considero meu comportamento de escrever reforçado.

      Excluir
  3. Muito bom! Gostei da sensibilidade e a forma de explicar sobre a temática!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Cristina. São textos escritos para o aluno de graduação iniciante e para o público leigo.

      Excluir
  4. O texto está acessível para uma pessoa leiga (mas interessada) como eu.

    ResponderExcluir
  5. Muito bom o texto fala de forma clara que drogas não produzem comportamentos . Por essa razão somente fazer uso de medicação não resolve o problema.

    ResponderExcluir