segunda-feira, 19 de abril de 2010

Não adianta pintar a galinha de preto que ela não vira urubu: para o público, controle é coerção.


Controle para os analistas do comportamento é uma coisa, controle para os outros é outra coisa. Por “outros” quero dizer todos os psicólogos com a exceção dos analistas do comportamento. Temos concentrado nossos esforços no marketing das vantagens do controle por reforço positivo sobre o controle aversivo.
A luta dos outros psicólogos é contra o controle, mas eles não identificam reforço positivo como controle. Quando falamos “controle” eles entendem “coerção”. Também é raro encontrar-se esclarecimentos sobre as diferenças entre reforçadores arbitrários e reforçadores naturais (Moreira e Medeiros, 2007).

Controle, regulação e interação.

Somos todos contra o uso da coerção, assim como todos somos defensores dos
direitos humanos. Mas os analistas do comportamento não têm conseguido explicar que focinho de porco não é tomada. No lugar de controle a palavra regulação seria mais palatável para o público em geral. Controle é uma palavra de uso diário, com sentido negativo quando associada ao comportamento humano; não é adequada como termo técnico para descrever uma interação.

Controle e coerção.

Voltando à questão sobre controle e coerção. Dizemos que somos contra o uso de coerção, mas como o controle é inevitável, deve acontecer pelo uso de reforço positivo. Skinner até escreveu um livro sobre isso, “Walden two” (Skinner, 1948). Alguns analistas do comportamento o tomam como um projeto para uma sociedade perfeita. Alguns destes chegaram mesmo a organizar comunidades experimentais seguindo suas regras. Não precisamos de experimentos para mostrar os efeitos danosos da coerção. Skinner fez campanha contra o uso da punição sem recorrer a qualquer experimento importante (Skinner, 1953). Murray Sidman poderia ter escrito seu livro “Coerção” (Sidman, 2000) sem todos aqueles procedimentos experimentais que desenvolveu nos anos 50.
O controle aversivo tem conseqüências colaterais indesejáveis, mas quem foi que disse que o planejamento de nossa realidade foi inteligente? A maioria dos problemas que chegam para o psicólogo deriva de alguma maneira de exposição ao controle aversivo. Apesar disso usamos mais o nosso tempo ensinando aos alunos as maneiras conhecidas de uso do reforço positivo para mudar o comportamento operante.

Operantes e respondentes.

A maioria dos subprodutos indesejáveis do controle aversivo envolve respondentes. Mas como experimentos sobre controle aversivo foram praticamente banidos nos últimos 30 anos, temos poucos dados sobre o desenvolvimento em longo prazo do controle aversivo. E quando experimentos são publicados, geralmente envolvem apenas análise experimental do comportamento operante. Acabamos nos tornando superespecializados.

Interação operante-respondente.

Algumas leituras:

Cameschi, C. E. & Abreu-Rodrigues, J. (2005). Contingências aversivas e comportamento emocional. Em J. Abreu-Rodrigues & M. R. Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação (pp.113-137). Porto Alegre: Artmed.
Moreira, M. B. e Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed. Capítulo 5, p. 91-93.


Referências Bibliográficas

Moreira, M. B., & Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Sidman, M. (2000). Coertion and its fallouts. Revised edition. Boston, MA: Authors Cooperative Inc. Publishers.
Skinner, B. F. (1948). Walden two. New York, NY: McMillan.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York, NY: McMillan.




Só com função não iremos longe estudando processos de interação comportamento-ambiente.

A obra inicial de Skinner, de sua tese de doutorado em Harvard até a publicação de “O Comportamento Verbal” e “Esquemas de Reforço”, pode ser vista também como um programa de pesquisa científica, no sentido de Lakatos, a ser desenvolvido no futuro. Setenta anos depois, é hora de ver o que foi desenvolvido, o que não foi, e talvez encontrar inspiração para descobrir as causas do que não aconteceu (Todorov, 1989, 2007; Todorov & Moreira, 2009). Um possível ponto de partida para esse empreendimento foi dado por A. C. Catania, em artigo publicado na revista “American Psychologist” (Catania, 1973)

Catania aponta a ênfase excessiva nos aspectos de função na análise do comportamento, mas sua contribuição parece ter passado sem grande efeito, inclusive nos trabalhos do próprio autor. Se na psicologia estudamos processos de interação (Todorov, 1989; Todorov & Moreira, 2009), processos podem e devem ser estudados do ponto de vista de estrutura, função e de desenvolvimento.

Especialização em função.
Processos ocorrem no tempo, com princípio, meio e fim, ou ciclos de recomeço. Em qualquer processo de interação comportamento-ambiente é possível identificar aspectos estruturais, de desenvolvimento (seqüências de aspectos estruturais) e funcionais (como e por que as estruturas se sucedem). A análise do comportamento tem se especializado nos aspectos funcionais, com menos ou, à vezes, sem nenhuma ênfase nos aspectos estruturais e de desenvolvimento.

Comportamento humano
Na maioria dos casos de análise do comportamento humano as interações de interesse envolvem comportamento verbal. Entretanto, quando levamos a interação para o laboratório para uma análise experimental freqüentemente tentamos “limpar” as interações de qualquer contaminação verbal.

Estrutura de repertório sem comportamento verbal?
O participante não poder descrever no experimento a contingência que controlou seu comportamento não quer dizer que o comportamento verbal não é importante. Os refinados estudos de ações no cérebro paralelas ao comportamento humano observável possivelmente já podem nos dizer quando o participante está centrado na tarefa e quando gasta o tempo “pensando na morte da bezerra”. Muitas vezes descrevemos uma contingência como se apenas a afirmação de que a conseqüência era reforçadora fosse suficiente para o controle da resposta. Pontos para serem trocados por uma porção ínfima da nota raramente controlam qualquer coisa. Se o reforçador não reforça, o participante tem uma hora para se preocupar com coisas mais importantes, como a morte da bezerra. Pensar na bezerra não está atrapalhando o experimento. O que atrapalha é usar como reforçador algo que não reforça, como centavos para uma hora de trabalho. Por outro lado, usar uma tarefa completamente sem sentido é interessante apenas para evitar ter que verificar a linha de base, o comportamento de entrada na tarefa.

Referências Bibliográficas
Catania, A. C. (1973). The psychologies of structure, function and development. American Psychologist,
Todorov, J. C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5 (3), 347-356. Reimpresso em 2007, 23, número especial, 57-61.
Todorov, J. C. & Moreira, M. B. (2009). Psicologia, comportamento, processos e interações. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22 (3), 404-412.



terça-feira, 13 de abril de 2010

Nível operante e aprendizagem significativa.

Em conversa com os professores Elenice Seixas Hanna e Marcelo Benvemuti tive um insight. O movimento pró estudos de aprendizag3em com significado (Ausubel, Gagné, Paulo Freire) do início dfos anos 60 é precedido por mais de 20 anos pelo conceito de nível operante, especialmente, saliente no início dos anos 50, com a reforma do ensino de psicologia experimental na Universidade de Columbia e com as publicações de Princípios de Psicologia, de Fred Keller & W. N. Schoenfeld, e de Ciência e Comportamento Humano, de B. F. Skinner. Aliás, a hierarquia de aprendizagens de Gagné parece estar implícita na sequência de capítulos do C & CH. Estou preparando capítulo para o próximo volume do "Sobre comportamento e cognição". Comentários e sugestões são bem recebidos.