segunda-feira, 19 de abril de 2010

Só com função não iremos longe estudando processos de interação comportamento-ambiente.

A obra inicial de Skinner, de sua tese de doutorado em Harvard até a publicação de “O Comportamento Verbal” e “Esquemas de Reforço”, pode ser vista também como um programa de pesquisa científica, no sentido de Lakatos, a ser desenvolvido no futuro. Setenta anos depois, é hora de ver o que foi desenvolvido, o que não foi, e talvez encontrar inspiração para descobrir as causas do que não aconteceu (Todorov, 1989, 2007; Todorov & Moreira, 2009). Um possível ponto de partida para esse empreendimento foi dado por A. C. Catania, em artigo publicado na revista “American Psychologist” (Catania, 1973)

Catania aponta a ênfase excessiva nos aspectos de função na análise do comportamento, mas sua contribuição parece ter passado sem grande efeito, inclusive nos trabalhos do próprio autor. Se na psicologia estudamos processos de interação (Todorov, 1989; Todorov & Moreira, 2009), processos podem e devem ser estudados do ponto de vista de estrutura, função e de desenvolvimento.

Especialização em função.
Processos ocorrem no tempo, com princípio, meio e fim, ou ciclos de recomeço. Em qualquer processo de interação comportamento-ambiente é possível identificar aspectos estruturais, de desenvolvimento (seqüências de aspectos estruturais) e funcionais (como e por que as estruturas se sucedem). A análise do comportamento tem se especializado nos aspectos funcionais, com menos ou, à vezes, sem nenhuma ênfase nos aspectos estruturais e de desenvolvimento.

Comportamento humano
Na maioria dos casos de análise do comportamento humano as interações de interesse envolvem comportamento verbal. Entretanto, quando levamos a interação para o laboratório para uma análise experimental freqüentemente tentamos “limpar” as interações de qualquer contaminação verbal.

Estrutura de repertório sem comportamento verbal?
O participante não poder descrever no experimento a contingência que controlou seu comportamento não quer dizer que o comportamento verbal não é importante. Os refinados estudos de ações no cérebro paralelas ao comportamento humano observável possivelmente já podem nos dizer quando o participante está centrado na tarefa e quando gasta o tempo “pensando na morte da bezerra”. Muitas vezes descrevemos uma contingência como se apenas a afirmação de que a conseqüência era reforçadora fosse suficiente para o controle da resposta. Pontos para serem trocados por uma porção ínfima da nota raramente controlam qualquer coisa. Se o reforçador não reforça, o participante tem uma hora para se preocupar com coisas mais importantes, como a morte da bezerra. Pensar na bezerra não está atrapalhando o experimento. O que atrapalha é usar como reforçador algo que não reforça, como centavos para uma hora de trabalho. Por outro lado, usar uma tarefa completamente sem sentido é interessante apenas para evitar ter que verificar a linha de base, o comportamento de entrada na tarefa.

Referências Bibliográficas
Catania, A. C. (1973). The psychologies of structure, function and development. American Psychologist,
Todorov, J. C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5 (3), 347-356. Reimpresso em 2007, 23, número especial, 57-61.
Todorov, J. C. & Moreira, M. B. (2009). Psicologia, comportamento, processos e interações. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22 (3), 404-412.



2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Prof. Todorov, o comportamento verbal, como qualquer unidade de análise é, também, uma variável considerável num processo de análise. Por exemplo, na prática clínica, ou melhor, num contexto quase-experimental, analiso se há correspondência entre dizer-fazer, assim como sob quais governanças verbais o cliente atua, além de outras variáveis. Sem analisar o comportamento verbal, o trabalho do Analista de Comportamento não é possível, até porque atuamos de fato nos relatos.

    Obrigado pelo texto, suas contribuições, como sempre, são valiosas.

    Abraço!

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